Nossa vida é cheia de mudanças e essas mudanças acontecem no nosso mundo interno e, com certeza, no externo.
Uma nova situação, uma nova exigência social, por vezes, nos convoca a uma nova forma-jeito para ser e estar no mundo. Ou então, é o mundo interno que muda e precisamos buscar novos comportamentos e ambientes para que haja uma composição que seja mais encaixada com tais mudanças pessoais. As mutações acontecem nesses momentos e podem acontecer mais ou menos com nossa participação ativa e consciente.
Compreender a vida do corpo se tornou a chave para que eu possa ser um pouco mais dona da minha vida. Falo isso com humildade, porque sou (somos) atravessados por dinâmicas que extrapolam nossa vida pessoal e que nos impactam diretamente e à nossa revelia, mas quando nós aprendemos que nosso corpo vivo segue um padrão comum à vida no planeta que é mutar e seguir, podemos influenciar um pouco as nossas tendências a determinados comportamentos que não são mais adequados à nova situação e podemos fazer isso pela relação neuro-motora. Pelos músculos voluntários e gestos podemos captar a forma de um comportamento (e, com isso, as emoções associadas a eles).
Esta noção é apresentada por Stanley Keleman que propõe uma psicologia formativa.
"Quando as coisas não vão bem emocionalmente, procuramos motivos ou justificativas biográficas para nosso próprio comportamento ou alheio. Os problemas são analisados em termos de causalidade: Quem começou a briga? Quais eram as circustãncias ou o motivo? Mas alguém também poderia perguntar: Como me usei para entrar nessa briga? Usei uma voz exigente ou uma postura agressiva? Endureci para lutar ou me encolhi rejeitado? As respostas a essas questões expõem a natureza somática e emocional do comportamento e revelam como palavras, emoções, pensamentos e gestos musculares se conectam." Corporificando a Experiência, p. 15.
Ser "dona de si" tem a ver inclusive com compreender que a vida se faz forte em conjunto e em relações de cooperação. Fora deste entendimento, caímos na noção não verdadeira de que uma pessoa é forte e poderosa por si mesma, pelos seus atos individuais exclusivamente como vem nos convencendo a cultura dos Estados Unidos da América cuja narrativa principal é forjada em heróis com poderes inumanos e que coloca a experiência de ser humano como um experiência impotente frente ao herói salvador.
Esta pegada de uma construção de si bem artesanal me enche muitos os olhos porque compreendo ser um jeito sustentável e ecológico de habitar este planeta. Além disso, acredito que evoca uma tradição humana que é a cooperatividade dos pequenos povoamentos que criam na vida coletiva a sua força de seguir às adversidades do viver.
p.s.: as fotos que escolhi é um registro de uma mutação que acontecia em minha vida em 2018 quando eu estava corpando uma professora de faculdade.
A primeira foto é fazendo uma leitura de poesia num evento da faculdade psicologia e a segunda foto é falando com alunos do Ensino Médio em uma atividade desenvolvida junto com os meus alunos da psicologia.
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