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Mutações

Nossa vida é cheia de mudanças e essas mudanças acontecem no nosso mundo interno e, com certeza, no externo.  Uma nova situação, uma nova exigência social, por vezes, nos convoca a uma nova forma-jeito para ser e estar no mundo. Ou então, é o mundo interno que muda e precisamos buscar novos comportamentos e ambientes para que haja uma composição que seja mais encaixada com tais mudanças pessoais. As mutações acontecem nesses momentos e podem acontecer mais ou menos com nossa participação ativa e consciente. Compreender a vida do corpo se tornou a chave para que eu possa ser um pouco mais dona da minha vida. Falo isso com humildade, porque sou (somos) atravessados por dinâmicas que extrapolam nossa vida pessoal e que nos impactam diretamente e à nossa revelia, mas quando nós aprendemos que nosso corpo vivo segue um padrão comum à vida no planeta que é mutar e seguir, podemos influenciar um pouco as nossas tendências a determinados comportamentos que não são mais adequados à nova situaçã
Postagens recentes

Arte, clínica, desejo e Camarón!

Recentemente vi dois documentários sobre Camarón de la Isla na Netflix, um é um filme, “Camarón – The film” e outro uma série de uma temporada, “Camarón – Revolution”. Aproveito para deixar como dica cinematográfica. No documentário é possível notar a mitificação do artista, já no filme, sua humanidade aparece mais, pois também aparecem mais suas contradições e situações de vida cabíveis a qualquer ser humano. Ao trazer este artista o que quero abordar é a intersecção entre a arte, a clínica e a micropolítica ativa do desejo. Suely Rolnik distingue as políticas do desejo em ativas e reativas, e esta diferença se dá, ela diz, pelo grau de submissão a que tais micropolíticas estão submetidas ao regime de inconsciente dominante ao qual ela chama de Inconsciente Colonial Capitalístico.   Quem foi Camarón de la Isla? José Monje Cruz deveio Camarón. Este foi um grande cantor de flamenco nascido em Cádis, região andaluza da Espanha. Ele trouxe um novo paradigma para essa arte quando se

Visita ao Sítio Histórico de Queimado - Serra - ES

 

Risco I - trecho retirado da minha dissertação de mestrado (2016) Gritaram-me negra: processos formativos da Negritude.

Tinha entre sete e oito anos e uma lição de casa de História para fazer. O tema da lição tinha a ver com a invasão portuguesa no atual território brasileiro. O texto que antecedia às perguntas que eu deveria responder descrevia o modo como os índios viviam; seus costumes e sua cultura. De alguma forma romantizavam os índios e colocavam seus valores como menores. Os portugueses, que nada tinham de invasivos, naquele texto apenas descobriram o Brasil, depois catequizaram os índios, enquanto lhes colocavam roupas para esconder “suas vergonhas”. Recorri a minha mãe para me ajudar não me lembro exatamente em que aspecto da lição, mas em algum momento ela disse me (a)-(r)-riscando até hoje “para o índio, homem branco é todo mundo, mesmo se a pessoa for negra, tiver a pele escura, para os índios estes também serão homem branco”. Uma grande interrogação pairou sobre minha cabeça. Se eu fosse um mangá todos veriam. As perguntas vieram ao mesmo tempo, num bloco só: Como assim homem branco é todo

Lembranças Formativas 3

(texto originalmente publicado no Facebook em 2018 e adaptado para este blog em 2020) Em 2012 fui fazer um estágio numa clínica psiquiátrica na França, La Borde. Conhecida de muitos psis, principalmente daqueles que tiveram contato com a Psicologia Institucional e Esquizoanálise, a clínica propõe um acolhimento aos usuários (pensionères) de maneira que foge aos modos manicomiais excludentes e discriminatórios e esta proposta surge a partir do movimento de reforma psiquiátrica francesa após a Segunda Guerra. A clínica tem atividades educativas, festivas etc. E uma que tem voltado à minha memória estes dias foi o "Bar Brasil". As pessoas de La Borde gostam muito do Brasil, há franca manifestação de curiosidade e carinho. Para os pensionistas da clínica  mesmo os trabalhadores nós, no Brasil, falamos "brasileiro" e não português. Concordo. Amam brigadeiro, acham uma riqueza de guloseima. Un jour, une amie   ma demande "quelle est la relation entre 'brigadeir

Lembranças Formativas 2 - As lembranças aqui expostas são formativas porque produzem corpo/pensamento.

Eu estudava em uma escolinha do bairro onde vivi praticamente toda a minha vida. Uma escola particular, pequena e com um prestígio na região. Refletindo sobre as lembranças dessa escola, o que era considerado bom na época receberia críticas da minha parte pensando hoje como psicóloga comprometida com uma educação democrática. Estava na 3ª série e esta lembrança continua sendo boa ainda hoje. Havia chegado na escola um novo professor de Educação Física. Achei ele lindo! Todas a meninas confessaram isso depois. E o que também notei rapidamente é que ele tinha uma vibração, um jeito interessante enquanto educador, que eu desconhecia, além de um visual menos careta que o das outras professoras. Era a primeira vez que eu tinha um homem como professor. Muita novidade. Na sua apresentação, ele logo disse que fazia parte de um grupo de teatro e eu ainda não sabia o que isso ia significar. As aulas de Educação Física fazíamos na rua onde ficava a pequena escola. Ele propunha uns exercícios

Lembranças Formativas 1

(texto escrito e postado no Facebook em 2018 e adaptado em 2020 para este blog). As lembranças são formativas porque construíram corpo/pensamento. Eu gosto muito de dançar. Alguns de vocês já sabem disso. Sejam as danças populares do Brasil e pops internacionais assim como me dedicar a um estilo de dança específico. Tenho uma trajetória nas danças formais, apesar de estar em falta por motivos vários nos últimos tempos. Mas este é outro assunto. Nessa minha reflexão sobre o gosto pela dança percebi que minha lembrança mais antiga sobre o movimento dançado e que me marcou profundamente foi quando Carla Perez surgiu. É verdade, fiquei fascinada com a desenvoltura da baiana se requebrando. Achei muito diferente de tudo que tinha visto, eu contava nesta época os meus sete anos. Daí também dá para entender meu gosto pelas danças e músicas pops. Foi essa cultura que marcou minha infância dos sete aos oito anos, não porque não houvessem outros elementos, mas essa foi bem presente e influen